quarta-feira, 17 de julho de 2013

Covardia poética



Noites vazias de insônia,
Noites cheias de palavras,
Ditas a uma folha em branco,
Que as acolhe sem julgamento,
Sem pudor,
Sem arbitramento.

Sim, eu sei!
É covardia!
A poesia que encharca a alma,
É a mesma que afoga os sentimentos,
A calma verbal que por ora acalenta,
É a mesma que entorpece o meu eu,
Que enlouquece, calado,
Preso nas grades desenhadas pelas linhas dessa folha em branco,
E que desmaia na lucidez gramatical,
Na métrica,
De devaneios áureos,
De estética,
De perfeição simétrica.

Vertentes incessantes de palavras,
Que correm em frenesi ardente,
Movimento alucinante,
Desenfreado mas latente.

Já não posso parar!
É a união de dois mundos,
O choque da realidade, dura e estática,
Com um mundo de sonhos e poesia,
Que do choque desbota, capota, mas...
Sobrevive...
Ironia!

Sim, eu sei!
É covardia!
A mesma mão que escreve o verso,
É a que se recolheu para não tocar na tua,
A mesma palavra que no papel se faz doce,
É a que assumiu um tom perverso,
E que mesmo assim segue a proclamar,
Bradar aos quatro ventos,
Sobrevoando o absurdo,
Santificando os maldizeres,
E menosprezando o mais puro dos sentimentos,
Sentimento que sente, mas nega,
Nega!
Nega para atear fogo em explosões gramaticais,
Levitar ao insulto das tramas,
Conceder indulto ao furor das chamas,
Ácida palavra que ao contato com o papel efervesce...
Que entristece, convalesce, mas...
Revive...
Permanece!

Sim, eu sei!
É covardia!
O mesmo carma da escrita em punho,
É o que testemunha as noites em claro,
Noites em rascunho.
Já não há como parar!
Já fez-se raro o descanso,
O caminho prossegue,
Exaurida, a palavra vaga,
Na trilha dos eremitas,
E peregrina, alucina, mas...
Prosegue...
Grita!


Sim, eu sei!
É covardia!
A mesma palavra que fere mortalmente,
É a que arranca o sorriso,
É a que divaga sobre o amor,
E que omite o medo de amar,
E assim vou, teorizo,
Que dores não são amores,
São delírios,
Que amores nada mais são,
Que meus martírios.

Nessa covardia poética
Carrego a palavra nas costas
Sem vida
Mas que ainda estanca
O gotejamento de lamentos
Que renuncia, silencia, mas...

Ama...


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