domingo, 8 de setembro de 2013

No dia em que matei a poesia em mim



Uma assassina me tornei,
Assassina em série, multifacetada, desnorteada...
No meio do caminho me abandonei,
Na busca desenfreada... pelo nada...

Matando pra (sobre) viver.
Mudando de rumo pra esquecer,
Lembranças de microondas pra aquecer...
E... novamente... fazer doer....

Ocultando os restos debaixo do meu travesseiro,
Restos do que um dia foi meu mundo inteiro,
Restos que à noite voltam em forma de sonhos,
Lembranças de um crime perfeito...

No dia em que matei a poesia em mim,
O amor-de-toda-vida estava lá sentado,
Ouviu uma confissão e foi o fim,
Sorriu por fora, morreu por dentro e se foi calado.

No dia em que matei a poesia em mim,
Eu busquei outro culpado,
Não podia aceitar enfim,
Que lhe tivesse afastado.

Num instinto de proteção,
Matei minha poesia,
Era ela que inundava meu coração,
Quando aquele olhar percebia.

Poesia não é meu dom,
É minha enfermidade,
É cantar sem ouvir o som,
É cegar-se para a verdade.

Agora a observo morta ao chão,
Aquela que um dia imaginei nunca viver sem,
Num gesto de dignidade seguro sua mão,
E todo o sentimento que dela advém.

Observo sua agonizante dor,
Mas a deixo partir,
Leva consigo parte do amor,
Que um dia me fez sentir.

É uma parte de mim que morre,
Assim como as outras que foram ficando pelo caminho,
É uma lágrima que escorre,
Afagando-me o rosto com carinho.



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