sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Invisibil[idade]

Daniel Gianechinni ago|2012


Centro urbano
Correria
Já é tarde
Passa do meio dia
É preciso cortar caminho
Rumo à galeria.

Cabeça baixa
O passo é apertado
Em minha direção vem uma caixa
Mas nem olho
Desvio
Vou pro lado.

A caixa flutua
Solta no ar
Vai de encontro aos transeuntes
Que só fazem esnobar.

Num segundo momento
Olhando com mais cautela
Percebe-se uma figura
Que, de tão frágil, se faz bela.

Há alguém que sustenta a caixa
Sustentação
Substantivo que dificilmente caracterizaria aquela figura
Que mal se apóia no chão.

Fragilidade vem à cabeça
Frágil idade
A figura da fragilidade estava a minha frente
Uma frágil invisibilidade

Apoiada por uma só muleta e encostada na parede da galeria
Por raros momentos ela saía do seu lugar
Para ir ao encontro dos apressados pedestres
Que, assim como eu, só viam a caixa a se aproximar.

Seu lugar, qual seria afinal?
Simplesmente a caixa se aproximava.
O chamamento tímido, nisso se resumia,
A voz faltava.

Dentro da caixa,
Sonhos tricotados com lã colorida
Que, em troca de alguns trocados
Aos transeuntes era oferecida.

O rosto marcado pela idade avançada
Guarda marcas de momentos vividos
Deixa rastros de uma vida
De sentimentos já sentidos.

Caminhos que a levaram até ali
Quais caminhos?
Onde estão as pessoas que fizeram parte desses momentos?
Onde estão seus carinhos?

Por que tudo é tão dúbio?
Por que está tudo tão distante agora?
Quem foi que escolheu ficar?
Quem escolheu ir embora?

Em que momento da vida fazemos a escolha que definirá tudo?
Em que momento definiremos quem vai seguir ou não com a gente?
Pode um só momento definir tudo?
E tornar o futuro tão diferente?

O futuro pode ser vazio
Qualquer passo errado
Algum caminho em forma de desvio
Algum passo mal dado.

Mas como saber?
Qual momento será crucial?
Qual escolha devemos fazer?
A escolha que definirá,
Dessa história o grande final?



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