domingo, 17 de novembro de 2013

Desvio




Esses dias me peguei pensando.....


Coisas boas permanecem.
Aquele pequeno desvio em que caminhamos lado a lado só fez o trajeto ficar mais bonito. E no fim, a vida não é sobre o destino final, mas sobre toda a caminhada que nos levou até lá.


Oração pelo Mundo






Preciso me desprender, 
Me esconder, 
Me perder.

Quero me transformar em outra,
Ficar louca, 
Cantar até ficar rouca.

Quero virar eremita,
Sei que deveria fingir que me sinto confortável,
Normal,
Inserida...

Tenho vontade de não falar mais nada, não falar com ninguém, 
Nem argumentar... ou ajudar
Mas não consigo, 
Quero tudo certo... no lugar.

As convenções devem ser seguidas,
E as vontades mais secretas, suprimidas...
[É o que eles dizem ...]

Tenho vontade de falar muitas coisas, e não parar mais,
De salvar todas as pessoas, todos animais....

Tenho necessidade de gritar frente ao injusto,
De provar ao chamado feio o quanto é venusto.

Eles estão errados!
Todos eles!

Feche seus ouvidos!
Permaneça intacto, não corrompido.

Não estremeça!
Feche os olhos até que tudo desapareça.

Eles se alimentam das nossas fraquezas,
Mantenha a pureza...

A pureza dos sonhos sonhados,
Que ganham vida a ser vivida.

Só eu vejo isso?
Me desespera mas me acalma,
Pois a estranheza me prova que não sou um deles,
Mas até quando?
Qual é o preço da alma?

Meus desejos mais secretos,
Dentre eles... o de tornar o mundo mais desperto.

A cada palavra maldosa desferida,
Mais uma alma decaída...

Anjos perdendo sua graça,
Sempre há o passo atrás... desfaça!

Meus desejos mais secretos,
Dentre eles...salvar,
Me salvar, e me perder também,
Estou contraditória, confusa, furiosa e emotiva.............
Mas disso tudo vem a força que me mantém.
No repúdio ao olhar com desdém...

Sinta, questione, tenha asco,
Seja esse alguém,
Que não se rende ao mais fácil,
Que não aceita o "amém"...

Seja e assim seja,
Amém...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

[A]corda



Anos e mais anos de linhas,
Quilômetros delas,
Linhas curvas, cordas bambas,
Passos cegos em entrelinhas.

Tudo por um fio,
Com dois se faz um laço,
Laços feitos e desfeitos,
Que se laçam e entrelaçam,
Fazem voltas e mais voltas,
Em tua volta,
E volto.

Enredos,
Do nosso enredo,
Nós que desato,
Desfaço,
Desprendo.

Desato nós da gente,
Mas não desato nós de nós,
A mesma corda que nos suspende,
Sustenta,
Nos prende,
Arrebenta.

Mas sufoca...
Acorda menina, acorda!



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Em construção...


Tenho escrito tantos versos,
Que nunca formam um poema,
Ficam soltos, incompletos,
Ainda esperam teus fonemas...

Deixo assim,
Uma linha em branco,
Na esperança que leias,
E devolva as palavras que arranco.

Cuidadosamente escondidas,
Entre sentimentos velados,
Habilmente protegidas,
Em um livro rabiscado.

Escolho algumas,
Duas ou três,
A mais importante faço com que suma,
Para que entendas, talvez...

Deixo assim,
Subentendido,
Para que entres em entrelinhas,
E entre elas encontres comigo.

Mensagens subliminares,
De um coração em estado sublime,
Para sintetizares,
As pistas deste crime.

Escolha as palavras certas,
E completarás esta poesia,
A rima está entreaberta,
Para que juntes tuas palavras às minhas...

Permuta



Mundo de aparências,
Não supre minhas carências,
Mundo de mentiras,
De eternidade de um dia.

Mundo de encontros solitários,

De festas vazias,
De cumprimentos automáticos,
De respostas frias,
De relacionamentos burocráticos,
De trocas em assimetria.

Mundo programado,

Em papel passado,
Mundo autenticado,
Vale um centavo.

Vida [comprada em] real,
Parcelada no cartão,
Realidade surreal,
Pode ser paga depois... 
Ou não...

E se eu te der...
Sem troca, sem permuta...
Você acreditaria em algo incondicional?
Sem troco, sem disputa...
Algo maior...
Divinamente irracional?

Algo que contrarie este mundo,
Que fuja dos preceitos,
Que beire o absurdo,
E inverta teus conceitos,
Que vá ao fundo...

Mundo da doutrina do raso,
De pessoas fúteis,
Mas como não é este nosso caso,
Neste mundo somos inúteis...



terça-feira, 22 de outubro de 2013

In Wonderland...



Cá estamos nós,
Frente a frente,
Mais uma vez,
Mas tudo está tão diferente.

Não há mais noção de tempo,
E de espaço,
Sou maior que uma casa e tal qual um grão,
Desde que despenquei naquele buraco...

Como inimigos, construímos defesas,
Erguemos muralhas ao nosso redor,
Esconderijos secretos,
Será este nosso melhor...?!?

De cima da torre,
Em meu domínio sou rainha,
Reino em preto e branco aos meus pés,
Mas ainda espero que me chames "minha".

Andando em diagonais,
Jogadas ensaiadas pelas tangentes,
Exterminando reis,
Mas ainda fraquejo na tua frente.

Meu reino todo a te caçar,
Do mais alto clero ao mais simplório peão,
Cortem a cabeça do criminoso!!!
Que sem piedade aprisionou um coração.

Espadas cravadas em copas,
Paus e pedras que acumulamos,
Durante todo o trajeto... reto,
Perdemos nosso coelho branco...

O abandonamos...












quinta-feira, 17 de outubro de 2013



"Um dia você deixou escapar que sentia vergonha por nunca ter lido um clássico. Eu fiquei vermelha, confesso!Mas admiti que não dava importância aos livros importantes. Aliás, não me lembro de ter lido nada de muito grandioso nos clássicos.


Achávamos chato qualquer livro com mais de 256 páginas e 12 personagens, lembra? Guerra e Paz ainda espera nossos olhos. Se depender da nossa vontade, Moscou morrerá de frio. E, com todo respeito, que se foda Napoleão. Dom Quixote ainda tenta chamar a nossa atenção com aqueles moinhos gigantes. Sancho tem um nome fofo. Meu cachorro teria esse nome. Se fosse um bulldog, claro!. E, pra mim, Cervantes será sempre um restaurante em Copacabana não um livro de bacana! E você ri. E eu também! E a gente se beija. Ah, e eu não me esqueço daquele silêncio homérico quando confessei que não li Ilíada e não entendi porra nenhuma da Odisseia. Prefiro mil vezes o Stanley mandando gregos e troianos fantasiados de macaco pro espaço. Desculpa os palavrões. Se eu me envergonho? Um pouco, confesso. Mas eu li o poema que você escreveu pra mim quando nem sonhávamos em sonhar em estar juntos um dia – se é que já estivemos juntos um dia. E aqueles versos bobos talvez sejam a coisa mais linda que li até hoje. Neruda que me perdoe. Quintana que me desculpe. Drummond que não me julgue. Aquele seu poema é o único clássico que tem espaço cativo e afetivo na minha estante: entre a Liberdade, de Franzen, e o Eu Hei-de Amar uma Pedra, de Lobo Antunes. E é lido todos os dias desde o dia que não nos vimos mais. Quando leio: “Amada, o mundo é tão estúpido que as pessoas precisam amar.” Eu tremo. Quando releio “Amada, o mundo é tão estúpido que eu não posso te amar“. Eu choro. E essa fala ainda reverbera nitidamente feito berro silencioso nos meus tímpanos de menina. Eu ouço a sua voz declamar cada verso, como se fosse rasgar minha memória. E rasga.

Um dia você deixou escapar que sentia vergonha por nunca ter lido um clássico. Eu tenho vergonha dos que nunca leram um poema seu..."




[lembrança portátil]

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Espelho meu



Dois corpos que se refletem,
É da luz o efeito,
Duas superfícies marcadas,
Sincronismo perfeito.

Mais do que a superfície,
A luz penetra a alma,
O efeito transcende o toque da pele,
Aninha, acalma.

Mais do que reflexo,

É o reconhecimento de dois seres,
É se descobrir um no outro,
Pequenos prazeres.

O espelho não mente,
Não mente por não pensar,
Reflete sem refletir,
Apenas reproduz o olhar.

Meu espelho e eu,
Frente a frente,
Reflito em você, reflito eu em mim
Agora vejo tudo diferente.

Agora eu entendo
Meus defeitos, 
Tão nossos...
Ali expostos,
Pela luz e seu efeito.

O reflexo é idêntico,
É deformado e nítido,
Olho tudo e não vejo nada
É precisamente impreciso.

SWEETHEART


SWEET[in my]HEART...
HEART toffees in my mouth... MELTING
two SUGAR spoons smearing my KISSES
one cub on coffee that FLOWS into my VEINS
HONNEY![the]MOON is reflecting in my EYES
FLOATING cotton candy clouds on my HEAD


a little bit of BUTTER
[slides and]FLIES into my STOMACH
cross MY MOUTH and put down ON YOURS
swallow hard to catch them... again...

Ficaqui!


Você disse "Fica aqui!"
Mas teu aqui
Não era aqui
Era logo ali...
Aí...
Ficaqui!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Catrapo



Poesia boa vira trapo,
Na gaveta, só o fiapo
Queda livre do sonho,
Aterrissagem forçada...

>>>Catrapo<<<

sábado, 28 de setembro de 2013

Sempre foi você...



Sempre foi você...

Do caminho reto, a tangente
Da estabilidade, o balanço
Do encontro, a serendipidade
Do passo de dança, a timidez
Do beijo, o começo
Do sorriso, o conforto
Da sinastria, o reconhecimento
Da música, a voz
Do sonho, a falta de chão
Do projeto, os traços iniciais
Do medo, o primeiro passo
Da dúvida, a certeza
Da vida, a espera
Da espera, a volta...
Volta!?!
........................
Da espera, a razão...
Você...
Sempre foi você...




Sumi





“Sumi. A culpa é das estrelas, mas têm-se as vantagens de ser invisível, pois soube quem era a menina que roubava livros, pude descobrir o segredo de Capitu. Ah, coitado do Dom Casmurro! Consegui escutar uma conversa entre a Peregrina e a sua hospedeira. Participei de algumas aventuras de Pi, dei água para elefantes e viajei com Alice ao país das maravilhas. Presenciei combates entre os distritos e, meu Deus, são verdadeiros jogos vorazes, quase que meus olhos se transformam em chamas, porém, tenho a esperança de tudo terminar bem. Desvendei o código da Vinci, entrei no quartinho embaixo da escada, onde Harry ficou antes de ir para Horgwats. Revirei e encontrei a carta de chamada e uma coisa me intrigou: faltava um til em uma das palavras. Fugi para o mundo de Sofia e dormi em uma aula de Filosofia. Acordei duas aulas depois e do meu lado estava um caderno rabiscado com apenas quatro folhas em branco. Vomitei as palavras e mergulhei na fantasia do escrever, ler, imaginar… Sonhar.”



— Sou um ser feito de barro e gosto da companhia de livros —

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

..."São estes os versos que venho procurando..."



"São estes os versos que venho procurando..."

São os que sempre estiveram aqui, 

Guardados...
Escondidos...
Outrora renegados...
E que hoje voltam a florescer,
No ritmo de um coração acelerado,
Que só acalma...
Silencia...
Pára...

Quando te lê...

Razão e Sensibilidade



Simplesmente não tem explicação,
E nem deveria ter,
Tão bom o que é por ser,
Sem motivo ou razão.

A busca por entender,
Mora na incredulidade do natural,
Encontrar qualquer indício anormal,
Algo que coloque tudo a perder...

Pra quê???

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Vinteler



Do vício em tuas palavras,
Fez-se a poesia,
Maravilhosa sensação que é,
Degustar tuas linhas.

Passeio por entre as sílabas,
E saboreio cada fonema,
Sem pressa alguma,
Eis meu poema...

Estado de êxtase...
Coração diz......................... pára!
Tenta esconder em vão
O que meu olhar propala.

Vim aqui pra ler...
Vim aqui pra reler...
Vim aqui pra dezler...
Vinteler..............................vim te ver...







All Stars



Ainda calçada,
Sinto os ladrilhos hidráulicos,
Sob meus pés...
Na calçada.

Desato nós e cadarços,
Lentamente,
Não tenho pressa...
Mas já é março.

Penso em pés,
E gatos que fogem,
Por caminhos incógnitos...
Preciso de café.

Há na xícara qualquer esperança,
Calor e conforto,
Senão desolação,
Onde pingam lembranças.

Lembranças tecidas em seda,
Pedaços de meu patchwork,
De notas musicais,
E um ritmo apenas.

Desfaço a teia,
Jogo os cadarços,
Todas as estrelas,
no chão do meu quarto.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Troca-se um fusca branco



Troco um fusca branco,
Por um pouco de paz,
Leve as lembranças e ganhe um banco,
Siga viagem e não olhe pra trás.

Momentos em promoção,
Venha e dê sua oferta,
Ganhe na troca a direção,
Só não damos a garantia de que é a certa.

Vende-se somente o motor,
Depende da sua necessidade,
Ele alimenta o amor,
Mas é movido por litros de saudade.

Mas se preferir,
Leve apenas a janela,
Abra-a e a veja partir,
Ainda se lembra dela?

Carrinho branco ficando em pedaços,
Cada um leva o seu,
É nítido seu cansaço,
Por tudo o que já viveu.

No retrovisor fica o caminho,
Já não há mais porque voltar,
Na estrada, sozinho,
Sol a pino a ofuscar.

Ofusca-me a visão,
Ofusca-me o fusca,
Suor, terra, distorção,
Segue a busca...

...................Volta!


Então volta...
Me prova que não foi tudo um sonho,
Que o amanhecer não apagou,
Aquela noite que existiu,
Não amanheceu... ficou.

Em mim...

Então volta...
Traz de volta tua luz... tu luz...
.......................................................Bendita seja!
Volta e ri alto!
Dessa minha falta de familiaridade com tua cerveja.

Então volta...
Volta e me deixa dirigir teu carro...
Eu faço caras... tu fazes bocas,
Vamos!Pois o espetáculo é pra raros.

Então volta...
Entra que te levo pra conhecer o Big Ben,
Tomar chá com a rainha e visitar os Beatles,
Cruza a ponte................................................Vem!

Então volta...
Rabisca o livro que ainda não escrevi...
Faz das minhas palavras...tuas,
Usa-as em teus rascunhos,
Me ajuda a ler as ruas.

Então volta...
Vem ser junto o que não somos separados,
Traz contigo o riso solto... o sonho alto...
As tardes leves ao teu lado.

Então volta...
Traz contigo a poesia inacabada,
Que eu levo meu poema pela metade,
Pode ser que não dê em nada,
Que seja só mais uma tarde.

Então volta...
Me faz voltar a acreditar que vale a pena,
Sonhar sem tirar os pés do chão,
Abrir mão do controle e da razão,
Me faz sentir grande ainda que pequena,
Segura minha mão...

Volta...

terça-feira, 24 de setembro de 2013





Nascemos em poemas diversos
Destino quis que a gente se achasse
Na mesma estrofe e na mesma classe
No mesmo verso e na mesma frase
Rima à primeira vista nos vimos
Trocamos nossos sinônimos
Olhares não mais anônimos
Nesta altura da leitura
Nas mesmas pistas
Mistas a minha a tua a nossa linha.


[Paulo Leminski em Toda Poesia]

domingo, 22 de setembro de 2013

Poema sem pé nem cabeça



Flor de pitanga que nasce em pé de amora,
Nasce em solo árido,
Onde a água aflora.

Noite enluarada de sol,
Coberta de estrelas,
Que viram poeira,
No chão do farol.

Abro a janela pro vento sair,
Deito no teto e observo o chão,
Abro as asas pra cair,
E desço em ascensão.

Lembro dos momentos que ainda não vivi,
Da cuia vazia, sem mate,
Choro sentimentos que nunca senti,
Lágrimas que se misturam ao chocolate.

Flor de canela que da parreira aflora,
Cresce de cima pra baixo,
Brota em sorrisos no rosto que ainda chora.

Arco-iris monocromático,
Pinta o céu em tons pastéis,
Pingos de chuva caem estáticos,
Secam aos poucos meus pincéis.

Flor de girassol que segue a lua,
Rotaciona as estrelas,
Como se fossem suas.

Flor de poema sem pé nem cabeça,
Brota no coração,
Enraiza,
E faz com que eu esqueça...






segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Frações de verdade



Na verdade, essa não é a verdade,
Na verdade, esta é só a metade,
Da minha verdade,
Da grande verdade.

Meio da metade,
De um inteiro de ansiedade,
Por minha verdade,
Na grande verdade.

Meio da metade,
De dois terços de vontade,
De matar a saudade,
Da minha saudade.

Meio da metade,
De quatro avos de bondade,
Em manter a piedade,
Num ímpeto de maldade.

Em frações de frugalidade,
Pequenos pedaços de perversidade,
Dão ao verso a unidade,
E o findam em mediocridade.

Alimento à uma vaidade,
Veneração à diversas deidades,
Odes em infinidade,
O nada em sua totalidade.

Verdade?
Exposição da intimidade,
O "eu" em vulnerabilidade,
Ascensão da alma à plena maturidade.

Verdade?
A vida encontra sua finalidade,
Quando descobre a felicidade,
Em pleno gozo de liberdade.

Verdade?
Perda das palavras a habilidade,
Abaixar a guarda, desligar a sagacidade,
Inverter a prioridade.

Verdade...

Fração em totalidade,
Não admite metade,
É inteira em quantidade,
Completa por identidade.

Verdade?
A verdade não pode ser dita...
Ninguém está preparado para ouví-la...
É uma tempestade arrasadora que devasta uma só pessoa...
Quando mastigada, engolida, digerida...
Dói em um só... mata um só
Não é justo
Não está certo
Mas, por enquanto
Eu aguento...

domingo, 8 de setembro de 2013

O projeto da minha vida



De todos os projetos pensados,
Eis a folha que permanece em branco,
De todos os rascunhos desenhados,
É o partido que não lanço.

Com traços de sonho foi concebido,
A quatro mãos tomou forma,
Cuidadosamente esculpido,
Desafia qualquer norma.

Escada no centro da planta,
Sob ela um jardim particular,
Temperos da horta finalizam a janta,
Cheiro, forma e cor de um lar.

Aço e vidro no meu enxaimel,
Começam no chão,
E sobem... 
Vão ao céu,
Na leveza da sustentação.

Ouço a água que corre,
E pelo teto vejo as estrelas,
Lá em cima, onde o sol morre,
Deito no tapete de grama para vê-las.

Projeto sonhado,
Traz o que está fora pra dentro,
Jamais antes arquitetado,
É do mundo o centro.

Pensando bem é o oposto,
O que está dentro é que se expande,
É do contexto o aposto,
Passa das divisas, exorbitante.

O mundo inteiro cabe aqui,
Pois tijolos deram lugar pra sonhos,
Dispostos cuidadosamente ali,
Na ordem em que os ponho.

Nesse mundo inventado,
Criação, sonho, vida...
Que segue seu bailado,
Um novo recomeço a cada partida.

Não há limites de traçado,
Linhas não delimitam, só norteiam,
Neste desenho inacabado,
Tempos de um futuro vagueiam.

O projeto é uma casca que protege,
Abriga e conforta,
A união que o destino rege,
Completa, comporta.

Projeto pensado, sonhado,
Teima em não se tornar real,
Enquanto os dois não estiverem lado a lado,
A casa ainda não é um lar, afinal.

Te cuida



Aquela hora,
Aquele segundo em que a fala trava,
Em que as palavras vão embora,
Some toda a coragem...
Que era tão brava.

É naquele momento,
No segundo que a gente estende,
Mil palavras que escondem um único sentimento,
Que não se fala... 
Se entende.

Palavras pra te prender,
E invento um novo mundo,
Laços poéticos pra te envolver,
É tudo teu...
Por um segundo...

Um novo ritmo de tempo,
Onde a meia noite nunca chegue,
Reorganizo as quatro dimensões...crio...invento...
Tudo isso em tuas mãos... 
Entregue.

Te cuida,
Te cuido,
Te zelo,
Te espero...
Volta aqui...
Fica por aqui...
Nesse mundo.



No dia em que matei a poesia em mim



Uma assassina me tornei,
Assassina em série, multifacetada, desnorteada...
No meio do caminho me abandonei,
Na busca desenfreada... pelo nada...

Matando pra (sobre) viver.
Mudando de rumo pra esquecer,
Lembranças de microondas pra aquecer...
E... novamente... fazer doer....

Ocultando os restos debaixo do meu travesseiro,
Restos do que um dia foi meu mundo inteiro,
Restos que à noite voltam em forma de sonhos,
Lembranças de um crime perfeito...

No dia em que matei a poesia em mim,
O amor-de-toda-vida estava lá sentado,
Ouviu uma confissão e foi o fim,
Sorriu por fora, morreu por dentro e se foi calado.

No dia em que matei a poesia em mim,
Eu busquei outro culpado,
Não podia aceitar enfim,
Que lhe tivesse afastado.

Num instinto de proteção,
Matei minha poesia,
Era ela que inundava meu coração,
Quando aquele olhar percebia.

Poesia não é meu dom,
É minha enfermidade,
É cantar sem ouvir o som,
É cegar-se para a verdade.

Agora a observo morta ao chão,
Aquela que um dia imaginei nunca viver sem,
Num gesto de dignidade seguro sua mão,
E todo o sentimento que dela advém.

Observo sua agonizante dor,
Mas a deixo partir,
Leva consigo parte do amor,
Que um dia me fez sentir.

É uma parte de mim que morre,
Assim como as outras que foram ficando pelo caminho,
É uma lágrima que escorre,
Afagando-me o rosto com carinho.